quinta-feira, 23 de julho de 2020




Joguei a Bússola fora

Quando pequena, adorava navegar pelos Contos de Fadas. Viagens que ganhara da mãe e da madrinha, que eram um pouco fadas. Na época não percebia. Mas desconfiava que  existiam, mesmo disfarçadas de aventais e óculos.
A vida é um labirinto. As estações marcam o tempo, rito de passagem. O destino cumpre o seu papel. Na ânsia da busca, a Bússola. Vamos seguindo, encontrando a direção ou perdendo-a. O verde é sinal aberto no peito.  Olhar pra frente é pouco! No labirinto, é preciso ver além do caminho. Nele há navegadores e seres mitológicos. Agora, eu sei!
 Num dia cinzento, de chuva fina, triste, olhei pro alto e vi quase uma miragem. Meu desejo transformara-se em realidade. A fada segurava uma tesoura. Não possuía varinha mágica, nem tão pouco poções milagrosas. Tinha sorriso nos lábios, simpatia que transborda, encantamento e paixões. Palavras certeiras, embrulhadas em papel de seda, presentes que marcam a existência inteira. Fiquei feliz.
Depois da convivência, descobri: a fada  tem poderes, sim. Em todos que toca, as palavras vão brotando qual flor ,delicadas, singelas, exuberantes, belas.  Alguns vão virando um pouco fadas, encantando com  palavras outros seres pela estrada.
Ontem à noite, deitada ,observei que asas começavam a nascer em mim. Levantei assustada! Peguei  lápis,  papel e, qual borboleta  voando nas páginas brancas, fui deixando minhas flores palavras. Depois, voltei para o  labirinto, sentindo-me inteira, sem pressa de achar  caminho certo, direção exata. Joguei a Bússola fora. Plantar jardins em terra árida, pra mim é o que basta.
                                                                                                      Vera Bastos.



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